Depoimento de:
Era
tudo completamente magnífico .A cada detalhe, a cada passo uma surpresa no céu
ou no balançar das árvores.
Quanto
mais eu andava pela pequena trilha, que começava pelo lampião, uma sede
horrível que deixava minha garganta irritada começou. Então fui a procura de um
rio, ou fonte, quem sabe...
Eu
observava tudo, e não sabia onde estava, o que eu iria fazer e como voltaria
para casa? Eram tantas dúvidas, que com o tempo, mal conseguia respirar.
Indo
cada vez mais longe, escutei sinais de passos .Eram apressados, preocupados, eram
importantes, tão importantes que as árvores dançaram no ritmo das pisadas
misteriosas. Escondi-me atrás de uma enorme árvore, que era tão alta que não
parecia ter fim.
E
então, vi um sujeito estranho. Era um anão com longos cabelos castanhos, que
iam até a cintura, com um olho azul claro e o outro castanho escuro. Atrás
dele, com um aglomerado de b coisas penduradas em suas costas, um cavalo
marrom, com ferimentos em torno de sua
pata, como se fosse chicoteado toda semana, ou como se prendessem ele toda
noite, mas mesmo assim, ele era bonito e bem cuidado.
-O
rei pediu para procurar, então não reclame....Esta “coisa” deve estar por
aqui!-disse o anão, com uma voz rouca.
-E
se a coisa for perigosa? E se nos atacar?
-disse o cavalo. Eu,idiota como sempre, dei um susto tão grande que
tropecei em uma pedra e cai para trás, fazendo um barulho entre as árvores.
-Escute,
Mercus! - disse o anão, ao escutar meu tombo. - A “coisa” deve estar por perto.
- ele tirou de sua cintura uma espada. Eu arregalando meus olhos de medo. Eram
caçadores, e a “coisa” podia ser eu. Comecei a suar frio. A mata atrás de mim
era fechada, havia névoa, mesmo num sol de meio-dia. Era sombrio, assustador. Eu
teria que enfrentar a floresta e fugir. Então tive que esperar o momento certo.
Me levantei lentamente, enquanto eles andavam em minha direção, um pouco mais
para a esquerda.
O
anão olhou ao seu redor, e quando ele iria olhar em minha direção, o cavalo
falou algo, tirando a atenção dele.
-Atencious,
como vamos saber que “A coisa” é “A coisa”? - diz o cavalo, novamente. Eu
comecei a andar para trás, devagar.
-O
Rei disse que ninguém anda muito por aqui, e há milhares de anos atrás, os Reis
e Rainhas Do Passado, apareceram por aqui. E essa coisa pode ser a salvação de
Nárnia. Tomara que ela consiga fugir, ela será a única chance de nos tirar do
cativeiro do Rei. - disse o anão, e eu fiquei confusa. Eles querem me matar,
mas também querem que eu fuja? Eles são escravos do “tal” Rei.
-Mas
lembre-se, o Rei não acredita na lenda, nunca mencione isso perto dele! – disse
nervoso - Atencious, estou sentindo um cheiro muito, muito estranho - diz o
cavalo.
-Cheiro
estranho? Cheiro de que? - o anão pergunta.
-Uma
mistura estranha. Cheiro de humano, e perfume de rosas vermelhas. - Dessa vez, sabia
que o cavalo falante falava de mim. Este era meu cheiro, meu quarto ficava ao
lado de um jardim, onde minha mãe me contava histórias e eu dormia em seu colo,
quando tinha 3 a 7 anos. Eu andei para trás, um galho se quebrou e eles olharam
para mim.
Ficamos
em silêncio por uns dez segundos, nos observando. Não conseguia me mexer. Eles
também, pelo jeito. Então, lembrei. Corra, Janie, corra!
-A
cerque Mercus! - O anão gritava, enquanto eu corria em direção a mata
fechada.
O
anão soe nas costas do cavalo, enquanto eu corria mais rápido que minhas pernas
e meu pulmão pouco aguentava. Finalmente achei um pequeno rio, minha garganta
gritou por água, mas eu a ignorei e saltei. Cai do outro lado. Vi eles ainda na
minha direção e continuei correndo.
Além
de correr, eu desviava das árvores. Comecei a desacelerar pois eu não suportava
mais. Então, peguei uma pedra e joguei na direção do anão e do cavalo, mas eles
se desviaram.
Continuei
correndo, mas quando olhei para frente, o pior aconteceu.
Eu
tropecei em uma linha, onde uma enorme armadilha estava montada. Uma rede me
prendeu.
Me
balanço e vejo o Anão em cima do cavalo, em minha direção. Eles chegam perto, o
pequeno desceu nobremente, e disse, meio triste por eu ser capturada.
-Você
está presa por Ordens de Nosso Rei! - disse o anão, triste, cansado, mas
tentando disfarçar.
-Que
Rei?Aonde eu estou? E você cavalo, por que está em silêncio? - eu não devia ter
falado aquilo.
-Está
biruta? Este cavalo é um preguiçoso, e se falasse também te prenderia de uma
maneira ou outra! Você está em Nárnia, Coisa. E você saberá o nome do Rei em
breve. Coisas como você podem amaldiçoar-nos dizendo apenas o nome. - disse o
anão. Ele cortou a rede, me prendeu com uma corda e, enquanto o cavalo tinha
mantida uma faca no meu pescoço para eu não fugir. E por mais que eu quisesse, eu
estava cansada demais.
O
anão me jogou por cima do cavalo, e começamos a ir em direção ao Castelo do
Rei, pelo que disse o anão. Ele e o cavalo ficaram em silêncio durante toda a
viagem.
Foram
mais de horas, andando até esse tal Castelo, e eu não podia falar, me mexer, nem
observar a vista, pois o Anão colocou um cobertor preto por cima de mim. E até
já tinha esquecido de minha sede insaciável.
E
então, quando o anão me descobriu, já era noite. Madrugada,talvez.
-Vamos
levar você logo a masmorra, o rei está dormindo neste momento. Amanhã ele terá
uma grande alegria em vê-la. - disse o Anão, e colocou-me o cobertor de novo.
Eles
andaram e andaram, subiram escadas até que finalmente, sem querer meu cobertor
caiu, na verdade, ele voou.
Quando
abri meus olhos, uma altura de 30 metros ou sei lá quantos (nunca fui muito boa
em matemática), invadia minha vista. Olhei para trás e o anão ainda subia
escadas e o cavalo ainda me carregava. Então, o anão entrou na frente e abriu a
porta de uma torre muito, muito alta.
O
cavalo entrou, me jogou no chão, e fui desamarra. Fiquei sem forças, e quando
ele tirou a corda que tapava minha boca, comecei a suspirar alto, recuperando
muito mais o fôlego.
Era
um lugar com quatro paredes, meio apertado. Havia uma pequena abertura no teto,
depois pude ver que a porta era meio estreita. Como uma solitária.
O
cavalo saiu, o anão colocou um copo de água no chão, saiu e trancou um pequeno portão, tipo
aqueles de cadeia. Até esqueci o nome, de tão assustador e horrível o lugar.
Eles
foram embora, e eu fiquei deitada lá. Morrendo de dor, pois as cordas estavam
muito apertadas. Era frio, e me cobri com um coberto verde musgo que pinicava
um pouco. Depois, bebi aquele copo d’água. Gelada, e minha garganta reclamava
enquanto bebia, mas sabia que devia beber, pois minha mãe, sempre me ensinou
que água hidratava, recuperava nossas forças. Minha mãe.
Será
que ela veio mesmo para aquele lugar? E sofreu tudo o que eu passei? Só queria
que ela me desse aqueles conselhos sábios naquele momento. E então, enquanto eu
pensava nela, acabei dormindo lentamente, e tive um sonho.
Era
uma criatura bela, linda, e tinha grandes asas com detalhes prateados. Mas não
podia distinguir se ela era grande ou pequena, só podia ver que enquanto eu
dormia, ela estava ao meu lado, me acariciando, me vigiando. Ela era tão
graciosa que queria que aquele sonho não terminasse. Então, algo me chama.
-Ei!
Você! Ei! Acorde! - era uma bela voz, uma doce melodia. Era um rapaz pouco mais
velho que eu. Eu tremia de frio e não queria abrir meus olhos, mas quando o fiz,
podia ver que o dia estava amanhecendo lentamente, com uma graciosidade, mas na
mesma misteriosa tristeza.
Então,
vejo um rapaz de olhos azuis como o céu, que brilhavam como o mar. Seus cabelos
loiros era como o mais puro ouro, e reluzente como o pó de uma estrela. Ele
demonstrava pressa em seu rosto, pois a todo momento olhava para trás.
Pude
perceber que eu estava em seus braços, e então me levantei e, desconfiada, logo
questionei:
-Quem
é você?
-Não
interessa neste momento. Mas vou te ajudar. Levante, o dia já vai amanhecer, eles
vão acordar! - ele disse e eu me levantei e cai no chão novamente, começando a
chorar. Minhas pernas estavam com câimbra.
-Não
consigo, é impossível! – disse, sussurrando. Ele, sem responder me pegou em
seus braços e desceu as escadas correndo.
Ele
olhava para os lados. Até que alguém nos vê.
-Ei!
Você! - Disse um guarda que passava por lá. Ele pegou uma faca em sua cintura,
com eu ainda no colo e jogou-a na direção do homem, e por incrível que pareça,
acertou em cheio seu coração.
Ele
continuava correndo. Até que entramos em um celeiro de cavalos, onde já tinha
um nos esperando. Ele me colocou sentada no chão, arrumou o animal , com muita,
muita pressa, e me ajudou a subir. Ainda estava decadente, mas estava
melhorando aos poucos. Então, ele pegou as rédeas do cavalo e começamos a
cavalgar, fugindo do castelo. Tive vergonha de segurar em sua cintura, afinal, não
sabia quem ele era, mas não tinha tempo de pensar nisso, eu ia fugir finalmente
daquele lugar frio e assustador.
Ele
corria muito com o cavalo, eu sentia muito medo, mas algo me dizia que eu
poderia confiar nele.
Então,
encostei minha cabeça em suas costas, e eu quase ia dormindo aos poucos, respirando
seu perfume, eu sabia que a partir daquele momento estaria segura.