domingo, 18 de março de 2012

A Sucessora - Capítulo 6

Depoimento de:

Era tudo completamente magnífico .A cada detalhe, a cada passo uma surpresa no céu ou no balançar das árvores.
Quanto mais eu andava pela pequena trilha, que começava pelo lampião, uma sede horrível que deixava minha garganta irritada começou. Então fui a procura de um rio, ou fonte, quem sabe...
Eu observava tudo, e não sabia onde estava, o que eu iria fazer e como voltaria para casa? Eram tantas dúvidas, que com o tempo, mal conseguia respirar.
Indo cada vez mais longe, escutei sinais de passos .Eram apressados, preocupados, eram importantes, tão importantes que as árvores dançaram no ritmo das pisadas misteriosas. Escondi-me atrás de uma enorme árvore, que era tão alta que não parecia ter fim.
E então, vi um sujeito estranho. Era um anão com longos cabelos castanhos, que iam até a cintura, com um olho azul claro e o outro castanho escuro. Atrás dele, com um aglomerado de b coisas penduradas em suas costas, um cavalo marrom, com  ferimentos em torno de sua pata, como se fosse chicoteado toda semana, ou como se prendessem ele toda noite, mas mesmo assim, ele era bonito e bem cuidado.
-O rei pediu para procurar, então não reclame....Esta “coisa” deve estar por aqui!-disse o anão, com uma voz rouca.
-E se a coisa for perigosa? E se nos atacar?  -disse o cavalo. Eu,idiota como sempre, dei um susto tão grande que tropecei em uma pedra e cai para trás, fazendo um barulho entre as árvores.
-Escute, Mercus! - disse o anão, ao escutar meu tombo. - A “coisa” deve estar por perto. - ele tirou de sua cintura uma espada. Eu arregalando meus olhos de medo. Eram caçadores, e a “coisa” podia ser eu. Comecei a suar frio. A mata atrás de mim era fechada, havia névoa, mesmo num sol de meio-dia. Era sombrio, assustador. Eu teria que enfrentar a floresta e fugir. Então tive que esperar o momento certo. Me levantei lentamente, enquanto eles andavam em minha direção, um pouco mais para a esquerda.
O anão olhou ao seu redor, e quando ele iria olhar em minha direção, o cavalo falou algo, tirando a atenção dele.
-Atencious, como vamos saber que “A coisa” é “A coisa”? - diz o cavalo, novamente. Eu comecei a andar para trás, devagar.
-O Rei disse que ninguém anda muito por aqui, e há milhares de anos atrás, os Reis e Rainhas Do Passado, apareceram por aqui. E essa coisa pode ser a salvação de Nárnia. Tomara que ela consiga fugir, ela será a única chance de nos tirar do cativeiro do Rei. - disse o anão, e eu fiquei confusa. Eles querem me matar, mas também querem que eu fuja? Eles são escravos do “tal” Rei.
-Mas lembre-se, o Rei não acredita na lenda, nunca mencione isso perto dele! – disse nervoso - Atencious, estou sentindo um cheiro muito, muito estranho - diz o cavalo.
-Cheiro estranho? Cheiro de que? - o anão pergunta.
-Uma mistura estranha. Cheiro de humano, e perfume de rosas vermelhas. - Dessa vez, sabia que o cavalo falante falava de mim. Este era meu cheiro, meu quarto ficava ao lado de um jardim, onde minha mãe me contava histórias e eu dormia em seu colo, quando tinha 3 a 7 anos. Eu andei para trás, um galho se quebrou e eles olharam para mim.
Ficamos em silêncio por uns dez segundos, nos observando. Não conseguia me mexer. Eles também, pelo jeito. Então, lembrei. Corra, Janie, corra!
-A cerque Mercus! - O anão gritava, enquanto eu corria  em direção a mata fechada.
O anão soe nas costas do cavalo, enquanto eu corria mais rápido que minhas pernas e meu pulmão pouco aguentava. Finalmente achei um pequeno rio, minha garganta gritou por água, mas eu a ignorei e saltei. Cai do outro lado. Vi eles ainda na minha direção e continuei correndo.
Além de correr, eu desviava das árvores. Comecei a desacelerar pois eu não suportava mais. Então, peguei uma pedra e joguei na direção do anão e do cavalo, mas eles se desviaram.
Continuei correndo, mas quando olhei para frente, o pior aconteceu.
Eu tropecei em uma linha, onde uma enorme armadilha estava montada. Uma rede me prendeu.
Me balanço e vejo o Anão em cima do cavalo, em minha direção. Eles chegam perto, o pequeno desceu nobremente, e disse, meio triste por eu ser capturada.
-Você está presa por Ordens de Nosso Rei! - disse o anão, triste, cansado, mas tentando disfarçar.
-Que Rei?Aonde eu estou? E você cavalo, por que está em silêncio? - eu não devia ter falado aquilo.
-Está biruta? Este cavalo é um preguiçoso, e se falasse também te prenderia de uma maneira ou outra! Você está em Nárnia, Coisa. E você saberá o nome do Rei em breve. Coisas como você podem amaldiçoar-nos dizendo apenas o nome. - disse o anão. Ele cortou a rede, me prendeu com uma corda e, enquanto o cavalo tinha mantida uma faca no meu pescoço para eu não fugir. E por mais que eu quisesse, eu estava cansada demais.
O anão me jogou por cima do cavalo, e começamos a ir em direção ao Castelo do Rei, pelo que disse o anão. Ele e o cavalo ficaram em silêncio durante toda a viagem.
Foram mais de horas, andando até esse tal Castelo, e eu não podia falar, me mexer, nem observar a vista, pois o Anão colocou um cobertor preto por cima de mim. E até já tinha esquecido de minha sede insaciável.
E então, quando o anão me descobriu, já era noite. Madrugada,talvez.
-Vamos levar você logo a masmorra, o rei está dormindo neste momento. Amanhã ele terá uma grande alegria em vê-la. - disse o Anão, e colocou-me o cobertor de novo.
Eles andaram e andaram, subiram escadas até que finalmente, sem querer meu cobertor caiu, na verdade, ele voou.
Quando abri meus olhos, uma altura de 30 metros ou sei lá quantos (nunca fui muito boa em matemática), invadia minha vista. Olhei para trás e o anão ainda subia escadas e o cavalo ainda me carregava. Então, o anão entrou na frente e abriu a porta de uma torre muito, muito alta.
O cavalo entrou, me jogou no chão, e fui desamarra. Fiquei sem forças, e quando ele tirou a corda que tapava minha boca, comecei a suspirar alto, recuperando muito mais o fôlego.
Era um lugar com quatro paredes, meio apertado. Havia uma pequena abertura no teto, depois pude ver que a porta era meio estreita. Como uma solitária.
O cavalo saiu, o anão colocou um copo de água no chão,  saiu e trancou um pequeno portão, tipo aqueles de cadeia. Até esqueci o nome, de tão assustador e horrível o lugar.
Eles foram embora, e eu fiquei deitada lá. Morrendo de dor, pois as cordas estavam muito apertadas. Era frio, e me cobri com um coberto verde musgo que pinicava um pouco. Depois, bebi aquele copo d’água. Gelada, e minha garganta reclamava enquanto bebia, mas sabia que devia beber, pois minha mãe, sempre me ensinou que água hidratava, recuperava nossas forças. Minha mãe.
Será que ela veio mesmo para aquele lugar? E sofreu tudo o que eu passei? Só queria que ela me desse aqueles conselhos sábios naquele momento. E então, enquanto eu pensava nela, acabei dormindo lentamente, e tive um sonho.
Era uma criatura bela, linda, e tinha grandes asas com detalhes prateados. Mas não podia distinguir se ela era grande ou pequena, só podia ver que enquanto eu dormia, ela estava ao meu lado, me acariciando, me vigiando. Ela era tão graciosa que queria que aquele sonho não terminasse. Então, algo me chama.
-Ei! Você! Ei! Acorde! - era uma bela voz, uma doce melodia. Era um rapaz pouco mais velho que eu. Eu tremia de frio e não queria abrir meus olhos, mas quando o fiz, podia ver que o dia estava amanhecendo lentamente, com uma graciosidade, mas na mesma misteriosa tristeza.
Então, vejo um rapaz de olhos azuis como o céu, que brilhavam como o mar. Seus cabelos loiros era como o mais puro ouro, e reluzente como o pó de uma estrela. Ele demonstrava pressa em seu rosto, pois a todo momento olhava para trás.
Pude perceber que eu estava em seus braços, e então me levantei e, desconfiada, logo questionei:
-Quem é você?
-Não interessa neste momento. Mas vou te ajudar. Levante, o dia já vai amanhecer, eles vão acordar! - ele disse e eu me levantei e cai no chão novamente, começando a chorar. Minhas pernas estavam com câimbra.
-Não consigo, é impossível! – disse, sussurrando. Ele, sem responder me pegou em seus braços e desceu as escadas correndo.
Ele olhava para os lados. Até que alguém nos vê.
-Ei! Você! - Disse um guarda que passava por lá. Ele pegou uma faca em sua cintura, com eu ainda no colo e jogou-a na direção do homem, e por incrível que pareça, acertou em cheio seu coração.
Ele continuava correndo. Até que entramos em um celeiro de cavalos, onde já tinha um nos esperando. Ele me colocou sentada no chão, arrumou o animal , com muita, muita pressa, e me ajudou a subir. Ainda estava decadente, mas estava melhorando aos poucos. Então, ele pegou as rédeas do cavalo e começamos a cavalgar, fugindo do castelo. Tive vergonha de segurar em sua cintura, afinal, não sabia quem ele era, mas não tinha tempo de pensar nisso, eu ia fugir finalmente daquele lugar frio e assustador.
Ele corria muito com o cavalo, eu sentia muito medo, mas algo me dizia que eu poderia confiar nele.
Então, encostei minha cabeça em suas costas, e eu quase ia dormindo aos poucos, respirando seu perfume, eu sabia que a partir daquele momento estaria segura.