quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Sucessora - Capítulo 3

Depoimento de:

A morte de minha mãe já completava uma semana. A dor para mim era tão grande, que toda noite, pensava em suas histórias, suas fantasias, suas lições de vida. Seu jeito, seu sorriso. Seus olhos azuis diziam que ela deveria ter sido muito bonita quando jovem.
Era triste pensar que tudo tinha se acabado tão de repente, tão sombrio, em silêncio.
Era três de dezembro, e eu estava na banca de jornal,lendo uma das notícias principais:
“Assasino mata mulher em frente ao banco. 1 semana atrás, Susana Pevensie foi assassinada em frente ao Banco de Fincley.Testemunhas dizem que não viram nada, foi muito rápido, apenas escutaram os tiros e viram a mulher morta no chão. O assassino fugiu e não há pistas sobre ele. A polícia ainda investiga o caso, mas é muito improvável que achem o outor.’’
Eu sou Janie Pevensie, filha de Susana Pevensie com John Stewart, general da Marinha. Tenho catorze anos e sou considerada uma “menina tímida e solitária”. Mas, a pessoa que realmente sabia que isso era mentira era minha mãe. Agora eu teria que viver com meu pai, não era tão ruim, mas ele não me conhecia muito, e vivia em viagens a serviço. E eu teria que ficar com uma ‘’babá’’, de agora em diante.
Agora, minha vida não fazia sentido, e eu estava decidida á agora, ser uma pessoa normal, parar de ser ingênua e parar de acreditar nas historinhas de minha mãe. Eu achava mesmo que aquele Tal Lugar existia. Mas eu tinha que me adaptar, me acostumar com a idéia de: Crescer, estudar, trabalhar e finalmente morrer, para logo acabar com essa vida que nunca me trouxe uma alegria, apenas uma, que tinha acabado de partir.
Voltando a manhã fria e escura, lia friamente a notícia. E sem perceber, uma lágrima caiu sem que eu pedisse. E o estranho que foi apenas uma, como se fosse a última de todas que eu iria derramar. Ela caiu lentamente e suavemente,deixado marcas aonde se encontrou.
O dono da banca de jornal, Sr.Quest, viu aquela cena, logo duvidou.
-Algum problema, Janie? - ele disse, olhando fixamente para minha lágrima. Ele era um adulto de meia idade, tinha cabelos escuros escondidos debaixo de um chapéu. Era alto e tinha um sorriso acolhedor.
-Nada, Sr.Quest. - eu entreguei o dinheiro do jornal. - Obrigada, vou levar este. - eu sai andando e nem esperei ele dizer nada. Não gostava de conversar com adultos, pois eles percebiam minha tristeza.
Indo para casa, vi uma menina que deveria ter uns cinco anos, com lindos cabelos loiros e olhos azuis escuros, andando de mãos dadas com a mãe. Ela não parava de sorrir, e sempre fazia perguntas, o tempo todo. Ela se parecia comigo quando eu era pequena. Mas a única coisa que eu mais perguntava para minha mãe, era sobre aquele Tal Lugar. Eu não aprendi nada com a minha ela, a não ser cada local, cada detalhe, cada história daquele Mundo. Eu até saberia não me perder, se algum dia chegasse lá. Isso me incomodava, pois eu nunca ia falar para um garoto, ou para uma amiga, o porquê da Feiticeira Branca ter matado o Sr Tumnus.
Mas logo esqueci isso, e continuei andando à caminho de casa. Olhei para o céu, estava escuro, iria chover, então comecei a correr.
Chegando em casa, vi umas malas na minha pequena sala. E logo pensei em meu pai.
-Pai? Papai? Você está ai? - eu perguntei, chamando-o.
-Sim, querida! - ele apareceu colocando um relógio no pulso esquerdo, todo arrumado. Ele iria viajar. Após prometer que ficaria comigo neste mês e iria me consolar. Eu fiquei com tanta raiva, que achei que iria explodir. Ele, percebendo minha reação, logo disse. - Filha, me desculpe. - ele chegou perto de mim, se abaixando um pouco, pois ele era mais alto que eu. Colocou a mão em meu ombro. - É uma viagem de trabalho. Não se preocupe, eu já chamei a babá. Ela chegará daqui a pouco. Sinto muito filha.
-Não sente nada. Quanto tempo vai ficar fora? Um mês, três meses? Já basta a mamãe ter ido embora agora você também vai. E eu vou ter que passar meu tempo,com uma babá. Quer saber, estou cansada disso. – fui correndo para meu quarto, e escutei ele chamando meu nome, mas o ignorei.
Eu cheguei ao meu quarto, tranquei a porta, deitei na minha cama e comecei a chorar. Não queria passar um tempo sem meu pai, sem minha mãe, sem minha família. Eu teria que conviver com uma babá chata ao meu lado, me mandando limpar a casa e depois dormir cedo. Eu teria que viver com uma desconhecida. Eu nunca ficara um segundo sem minha mãe, ou sem meu pai ao meu lado. Como eu iria sobreviver?
Depois de algumas horas, sai do meu quarto e vi meu pai olhando os livros na prateleira do escritório. Eu fiquei o espionando, escondida. Até que um momento, alguém bateu a porta. Deveria ser a “querida babá”. Quando percebi que ele iria abrir a porta, fui correndo para meu quarto e fechei a porta mais uma vez. Silenciosamente e lentamente. E fiquei escutando ela e papai conversando por uns minutos.
-Hã... Senhora Elizabeth Russo?-meu pai disse.
-Sim, sou eu. - a babá disse. Ela tinha uma voz doce, jovial. Pelo menos ela não era uma velha chata.
-Pode entrar. Eu vou viajar apenas duas semanas. A única coisa que eu lhe peço é que converse com ela, tente fazê-la sorrir um pouco, esquecer a... - a voz de meu pai somiu, como se a garganta dele não consiguisse dizer nada.
-Eu sinto muito. Eu prometo faze-la sorrir um pouco. - ela disse, terminando a frase de meu pai.
-Obrigada. Janie venha conhecer a Sra. Elizabeth. - meu pai disse, me chamando.
Por educação, sai do quarto e fui devagar até a sala. Vi meu pai sentado em sua poltrona e a “querida babá” em pé. Ela era muito bonita.
Ela tinha cabelos grandes, até a cintura. Tinha olhos azuis bem escuros. Um sorriso acolhedor que dava vontade de abraçá-la. Tinha rosto suave e jeito de ser boazinha, tão boazinha que parecia que nem tinha coragem de matar uma formiga.
Sabendo que todos me olhavam, resolvi dizer algo.
-Hã... Olá. - eu disse, olhando para os dois.
-Oiie, Janie. Muito prazer em conhecê-lá.
-Bem, tenho que ir agora, já estou atrasado - disse meu pai, se arrumando e já abrindo a porta. Ele me deu um abraço, e disse um simples adeus.
Quando ele foi embora, olhei para babá. Observando-a.
-Quantos anos você tem? - eu disse.
-26. E você querida? - ela disse, sorrindo. Acho que ela estava animada para puxar assunto.
-Não é da sua conta! - eu vou para meu quarto.
Chegando ao meu quarto, observei a chuva cair, deitada em minha cama, e olhando de vez em quando para a foto de mim e minha mãe no porta-retrato ao lado de minha cama. Mesmo eu sendo pobre, eu era feliz, não sei como, mas de alguma forma eu era.
Lembrando de meu pai, vi que ele observava algo na biblioteca, então resolvi ler um livro para tirar o tédio. Fui lentamente para biblioteca e vi que a babá lia o jornal que eu comprara. Era hora perfeita para eu ler um livro sem ser incomodada.
Fui correndo para o escritório. Eram prateleiras e mais prateleiras de livros. Eu ficava até confusa com tantos livros. Então, comecei a procurar sobre um tal livro que minha mãe escreveu. Era um conto, mas pelo menos podia lembrar-me de seu jeito doce de falar.
Procurei, revirei, arrumei, desarrumei e não achei nada. Eu não sei como que a babá não escutou nada, acho que foi porque a porta estava fechada. Até que peguei uma cadeira e comecei a ver as prateleiras de cima.
Quando subi, achei o livro, mas atrás dele, tinha um livro bem melhor. Era brilhante e pesado. Parecia ter umas 300 páginas. E estava escrito:
“Livro da descoberta e desejos: Deseje algo, leia o feitiço, feche os olhos, conte até cinco.....”
E então sentei na cadeira, e li. Era perfeito. Eu poderia desejar que minha mãe voltasse. Que tudo voltasse ao normal. Era uma perfeita saída. Mesmo sabendo que poderia não funcionar,porque não tentar?
E então abri o livro, e comecei a procurar o feitiço. Mas só haviam páginas e mais páginas vazias. Comecei a ficar com raiva. Então joguei o livro no chão, com rancor.
Mas quando eu olhei, lá estava o feitiço. Chamava atenção, com suas letras e cores chamativas. E então, sentei no chão, peguei o livro e coloquei ele no meu colo. Primeiro, desejei que minha mãe voltasse,e recitei o feitiço:
            “Estrelas do céu e da terra
            Digam a verdade sem pressa
            Nada a impedirá
            De contar
            A estes adolescentes
            A aventura que está a esperar....
            Pois Aquele, neste momento, está a soprar......”
            Então fechei os olhos, começou a ventar muito forte. Eu levantei, e tentei fechar a janela. Mas não fechava de jeito nenhum, estava emperrada. A cada momento ventava mais forte. Então tentei sair do quarto, mas a porta não abria.
            Então, no momento do desespero, aconteceu uma coisa muito pior. O livro de desejos começou a crescer e as prateleiras caíram dentro dele, como se ele tivesse os sugado. O livro continuava crescendo, e depois chegaria até a mim e me sugaria. Como aquilo estava acontecendo? Comecei a gritar para ver se alguém me ajudava, mas ninguém apareceu. Por um momento achei que iria morrer. E então, se eu morresse, eu poderia, quem sabe, ver minha mãe.
            Cheguei perto do livro, e a ventania começou a me puxar lentamente. Meus cabelos estavam no meu rosto e toda hora eu tentava jogar para trás. Mas aí percebi.
            -O que eu estou fazendo? Janie fuja pela janela!!! - eu pensei,mas era tarde demais.
            Quando fui em direção a janela, o livro me puxou mais forte, e eu cai,com um grito estridente. Fechei os olhos e me senti desabando. O que esta acontecendo? Será que eu fiquei maluca?
            E então, pude perceber que cai sentada em uma grama úmida, e doeu um pouco. Então, abri meus olhos lentamente.
            Havia árvores altas, verdes, e alguns pássaros voavam pelo céu, que eu nunca tinha visto algo tão lindo em toda minha vida. Havia um caminho na minha frente e também um lampião. Era alto, e parecia que ficava aceso dia e noite.
            Aquele lugar era tão lindo, tão perfeito e especial. Nunca, em minha vida inteira pude imaginar um lugar como aquele. Mas alguma coisa estava errada. Mesmo o lugar sendo lindo, havia algum vazio, alguma tristeza vivendo nele. Como se ele tivesse sido abandonado. Quem poderia ter esquecido aquele lugar tão fascinante?
            E então, pensei, que lugar era aquele?
            Encostei naquele lampião e observei aqueles pequenos detalhes. E uma pequena lembrança veio a minha mente, como um choque elétrico. E então,eu disse para mim mesma:
            -Será? Não! É logicamente impossível!

sábado, 21 de janeiro de 2012

A Sucessora - Capítulo 2


Depoimento de:


As amarras estão firmes, como sempre estiveram. A maior árvore do bosque continua sustentando o balanço, e continuo me sentando lá quando devo refletir. É um bom lugar, a árvore fica bem no alto de um monte, e de lá, consigo ver quase todos os Arvoredos da Vida. Alguns ainda pequenos, sutis e pouco copados, outros já crescidos, e com muita folhagem, ou melhor, com muitos pingentes, pois as folhas parecem mais com gotas de água congeladas.
Ultimamente, este tem sido o único lugar seguro para mim, onde todas as más lembranças, não parecem mais do que pequenos ciscos, que não fazem a menor diferença. Os Bosques Ocultos, e seu ar sempre fresco e úmido, são capazes de aniquilar tudo que te atormenta, e por um momento, parece que não existe nada mais do que aquela paisagem. As árvores luminosas e radiantes, se misturando as de tom azulado ou arroxeado. As flores de cores estonteantes que entram em perfeita harmonia com as cachoeiras de água turquesa. E o céu, ah o céu. De uma noite eterna, clara e acolhedora, coberta de estrelas. Como o Outono que se mistura à Primavera, em uma fusão surreal e inacreditável. Para todos os lados que se olha, existe apenas aquela visão. E qualquer um desejaria viver lá para sempre, se não fosse, claro, eu, a única a ter acesso. Não foi sem motivos que Aslam colocou todos os berços, ou seja, todos nossos lares, tão distantes das almas narnianas. Estamos lá desde sempre, e continuaremos até, quem sabe, depois do fim.
Como todas as outras, estou há muito tempo em Nárnia, então posso dizer com toda certeza, que nossa terra nunca passou por tempos tão difíceis. É complicado se conformar com eles acreditando, que o passado não passa de lendas, quando, na verdade, é mais real do que o que acontece agora.
Sou responsável pelos sonhos. Então, diferente de algumas de nós, estou forte e saudável. Não dependo deles para viver, e mesmo que dependesse, não mudaria nada. Todos os seres de Nárnia – não que saibam disso – são afetados pela falta de Aslam, e essa ausência, já completa quase um milênio. Sendo assim, nos sonhos é o único lugar onde podem se contentar, e faço questão de implantá-los, como se eu mesma fosse tê-los. Por causa desse trabalho, sei exatamente o que se passa nos corações de todas as almas narnianas. Até o pensamento mais profundo, residente da essência de seus seres. Através de tantos anos, percebi que até os bárbaros mais insanos, desejam uma Nárnia melhor. Até os líderes mais cruéis, desejam reinar em uma terra mais perseverante. E até aqueles, que por descendência, deviam crer na magia de Nárnia. Veem-na apenas como um mito.
Mas, enfim, tudo isso começou a mudar em uma doce manhã – eu pude perceber, pois, apesar de nos Bosques Ocultos ser sempre noite, a posição da luz muda – quando, enquanto sentada no balanço do monte, notei um Arvoredo da Vida, eu vivo nos Bosques Ocultos desde que fui criada, conheço cada canto daquele lugar, e tinha certeza, aquele arvoredo não estava lá no dia anterior. Dirigi-me até ele o mais rápido que pude, eu podia estar enganada. Mas não. Para chegar até lá tive que tomar um caminho que nunca usara antes para chegar a um Arvoredo da Vida. Passei por alguns cedros deslumbrantes e pelo rio que passava pelos bosques, notando as cavernas de pedras negras e lisas, onde tinha que recorrer, quando deveria implantar algum pesadelo, e finalmente cheguei. Pode pensar que era o arvoredo de um bebê que nascera durante a madrugada, mas não, recém-nascidos não tem arvoredos, mas sim pequenas mudas, que logo viram pequenas árvores – e consequentemente, crescem e morrem com eles – e sem pingentes. Este não, já era crescido, esbelto, e com uma copa maravilhosa. Há tempos não via algo tão incentivador. Eu estava correta, havia algo estranho lá. E isso se confirmou, quando peguei um pequeno pingente, e o vislumbrei. Foi então que tive uma surpresa, o sonho tinha imagens de algo que acontecera em Nárnia há milênios, eu bem me lembrava de como foi lindo o acontecimento, mas eu não poderia me distrair, aquele sonho não fora implantado por mim, e eu era a única em Nárnia que poderia fazê-lo. Segurei outros pingentes, seguidos de decepções, eu não havia implantado nenhum dos sonhos daquele arvoredo, mas alguns deles se referiam à minha terra. Então algo me veio à cabeça, era uma alegria tão extrema que mal podia conter dentro de mim, um alívio, que me fez soltar um longo suspiro, seguido de um sorriso de satisfação, que foi limitado por uma serena preocupação. Eu deveria avisar a Guardiã, informa-la rápido, e foi o que fiz. Chamei Thorine, um belo unicórnio branco, que logo apareceu. Ele nunca me deixava.
A viagem não foi longa, também, Thorine era rápido, e entidades como eu, podem realizar alguns truques. Logo estávamos na frente ao Palácio, muito mais belo do que me lembrava. Havia mais cor, mais vida. Os espelhos de que era feito estavam refletindo o Sol fielmente. Quando me notei, eu também estava mais viva, minha pele e meus olhos brilhavam mais. Agora tinha certeza, minha suspeita era real. A brisa tocou-me, fechei meus olhos, e senti, estou certa, que aquele era o sopro de Aslam. Ao descer de Thorine, as portas do Palácio se abriram, a Guardiã me esperava. Nós, fadas, temos uma aparência bem jovial, porém a Guardiã parecia mais adulta, mais velha que nós, mesmo não sendo. Ela sentira minha presença, e fora me receber. Eu devia parecer aflita, pois ela logo me perguntou, com a mesma voz sutil de sempre:
_Ember, o que houve? Faz muito tempo que não vem até aqui.
_Hoje, mais cedo – percebi que falava oscilando – um novo arvoredo, já crescido, com sonhos que não são meus. – Ela escutava atenciosa, como sempre, e não demonstrava espanto na expressão.
_Mas como? – disse calmamente – Não pode ser!
_Mas é. Eu confirmei. Pelo tamanho tem uns quatorze ou quinze anos. – ela abaixou a cabeça, parecendo pensar.
_Agora se encaixa. – disse ela, e fiz provavelmente um rosto de dúvida, pois ela continuou. – Sabe que algumas fadas já se foram. Essa manhã, pensamos que Glen havia se juntado à elas. Mas acaba de voltar, por ordem dele, afirmou.
_Por Aslam! Quer dizer que... – não terminei, havia outra coisa melhor para se falar – Ybelle. Você sabe que isso já aconteceu antes.
_Sim, Ember. Mas há milênios ninguém entra em Nárnia. – a fala confirmou que ela sabia do que eu falava.
_Talvez seja a hora. – e eu sabia que era
Depois de dizer essas palavras, notei uma presença atrás de mim, eu conhecia bem aquele debater leve de asas. Não fomos só Glen e eu, a sentir os sinais. Logo depois, muitas mais chegaram.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A Sucessora - Capítulo 1


Depoimento de:



Olhando para o horizonte, como sempre esperando o sol nascer. Como sendo eu, a fada da alegria, aquele seria mais um dia triste pra mim, Nárnia estando nessa tristeza profunda, cada vez se tornava mais dificil sorrir, e depois de um milênio sem felicidade, a cada dia ficava mais fraca e delicada.
              A brisa batia levemente sobre minha pele, era um vento diferente, não era um sopro da manhã, era uma brisa morna, aconchegante, e senti por um momento, como se alguem estivesse ao meu lado. Mas estava enganada. Quando olhei, não havia ninguém. Repeti, virando-me para o horizonte e vendo os primeiros raios de sol nascer. Permaneci sentada onde eu estava.
               E novamente veio aquela brisa, e dessa vez ela trouxe consigo as pétalas de minha rosa. Nesse momento me senti mais fraca, então resolvi me erguer, começei a andar calmamente, até que senti minhas forças se distanciando, como se arrancadas de mim à força. Chamei Lua, uma unicórnia com asas, que se comparavam no mínimo, com as dos anjos. Em meros segundos, ela já se encontrava ao meu lado. Beijei seu fucinho, e assim que a toquei, ela pareceu sentir algo, pois bufou. Segurei em sua crina, macia e volumosa, e automaticamente ela se abaixou para que eu pudesse me montar. Assim que me posicionei, ela saiu voando o mais rápido que podia. Eu nao sei como consegui me manter sobre ela, pois estava consideravelmente fraca, e não conseguia sequer controlar meus músculos, para que pudesse me segurar. Quando cheguei ao palácio, Ybelle já estava plantada na porta, era uma bela mulher, seu corpo enorme a fazia parecer com uma Deusa, e a visão dela me aguardando, me acalmou, ela parecia já saber o que iria acontecer. Tentei descer de Lua sem tombar, mais nao consegui, perdi o equilibrio, e quando iria desabar, ela me apoiou. Ao me aproximar mais de Ybelle, percebi em seu rosto uma expressão de tristeza, mas ela não disse nada, apenas me apoiou, e levou-me até meus aposentos.
A cama era macia, e logo depois de me deitar, fechei os olhos, e adormeci por alguns minutos. Assim que acordei novamente, começei a sentir meu corpo dolorido, como se estivessem arrancando minha alma. Ao olhar para minha esquerda, vi duas de minhas irmãs, elas estavam chorando e soluçando incontrolavelmente, olhei na direção da janela e vi minha preciosa Lua. Eu continuava sentindo muita dor, que foi aumentando, até que não consegui mais segurar o choro, fechei os olhos e senti meu último respirar.
Quando abri meus olhos novamente, estava deitada numa relva ainda com orvalho, era uma muito terna e verdinha. Não estava sentindo mais dor no corpo e nem estava fraca, levantei-me depressa e começei a olhar a minha volta. Era lindo.
Novamente senti a mesma brisa de hoje de manha. Virei-me novamente, Ele estava lá. Aslam andou em minha direção, e com a mesma voz sobre e serena, disse:
              _Glen minha querida, ainda não é chegada sua hora, precisarei de você, agora volte.
Eu nao tive tempo de esboçar nenhuma reação, ele soprou sobre mim, levemente, o que fez meus cabelos voarem, como se aquele vento saísse de águas saidas de uma cachoeira. Novamente acordei, e o quarto já estava quase vazio, só uma de minhas irmõs continuava lá, ela tinha adormido de tanto chorar, percebi pelos seus olhos, vermelhos e inchados.
Quando me levantei, eu estava me sentindo cheia de vida novamante. Eu despertei minha irmã, quando ela me viu, me abraçou com tanta força, que mal consegui respirar. As outras fadas ouviram, os gritos de felicidade podiam ser escutados à milhas, e subiram correndo. Quando me viram de pé novamente, ficaram tão felizes, mas ao mesmo tempo surpresas. Ybelle foi a primeira a me perguntar:
_Como você conseguiu voltar?
Eu olhei para ela e disse, depois de pensar por um momento, tentando me lembrar se tinha sido real.
_Aslam me mandou de volta, ele disse que ainda precisaria de mim.
Pensei ter sido apenas um milagre, Aslam precisaria de mim, e eu deveria obedecê-lo. Claro que foi um milagre, ele havia voltado, pelo menos no meu sonho, sim. Mas não foi por acaso, algum tempo depois, após todas as fadas já terem me enchido de perguntas, e me coberto de agrados, Ybelle saiu. Ouvi os portões do Palácio se abrirem, e então escutei uma voz que não era a da Guardiã, porém eu a conhecia, Ember. Deveria ser algo sério, Ember não costumava visitar o castelo. Escutei-a arfando, mas não entendi uma palavra sequer. Logo depois escutei mais vozes, não pude reconhecê-las, pois agora já eram tantas, que se misturavam. Só uma coisa chamava-me a atenção, há tempos não vira tantas entidades juntas, a última fora na presença dele.

Resenha

           Desde que ele se foi, Nárnia se encontra em ruínas. A magia que um dia esteve presente nessas terras, e em todas que a rodeiam, simplesmente não existe mais. Os humanos acreditam que todas as histórias são apenas lendas, contos distantes e impossíveis, inclusive o fato da existência de um único rei supremo e fantástico. Claro, que a realidade de anões, faunos e centauros circulando pelas vilas é considerada “comum”, já que escravos tem que trabalhar independente do lugar, mas a mágica de Nárnia se resume aí, os animais falantes, se rebaixaram, fingindo serem como os outros, e acabaram por alguns, até esquecerem como era, e se tornarem em nada mais do que simples criaturas normais. Estes foram os únicos que conseguiram sobreviver à fúria dos filhos de Adão. Não existem mais dríades, grifos, unicórnios ou qualquer outro tipo de ser mágico em Nárnia, já que os outros não são considerados seres mágicos, e sim brinquedos, aos quais podem explorar o quanto quiserem, e depois jogar fora, quando não precisam mais. Como todos ousam dizer, -Todas essas bobagens são apenas contos para crianças-.
            Mas escondidas nos mais remotos e inimagináveis cantos deste mundo, por trás de tudo que eles imaginam ser a realidade, e que mesmo os que viveram na época de Ouro de Nárnia apenas citaram em histórias, e nunca imaginaram realmente existir, estão os seres mais encantadores e fascinantes que Nárnia jamais vira, e realmente não haveria como ver, os Seres Invisíveis, estes, entidades que só estão abaixo do próprio Aslam. Fadas, cada uma com uma responsabilidade sob essa terra, criaturas fantásticas, que mesmo nos tempos difíceis, não deixam de cumprir seu dever. Responsáveis por todos os sentimentos, e ações por quais todas as almas viventes em Nárnia passam, ou passaram durante todos os milênios de existência.
            Mas não exatamente como os humanos falam, toda essa história de seres mágicos não é sempre um Conto de Fadas. Alguns dos Seres Invisíveis dependem das almas narnianas para sobreviver, por exemplo, do amor ou da felicidade, algo que não habita mais os corações destes, e acabam que por falta disso, ficam fracas, sensíveis, e não podem mais exercer seu papel, tendo que se recolher para um Refúgio, já conhecido entre elas, onde não terão que cumprir nenhuma tarefa, e não precisam se torturar vendo a realidade, mas também permanecem fracas, sem nenhuma luz sequer, para consolá-las.
            É quando tudo começa a mudar, a vinda de uma simples garota para Nárnia, abre os olhos daqueles que não mais acreditavam, e ilumina as fadas, pois esta tem algo incomum, algo que só se vira centenas de anos atrás, quando Nárnia encontrara seu auge, e vivia mais feliz do que nunca. Ela possuía a alma mais pura e o coração mais grato entre tantos desertores, e chegava a lembrar uma outra jovem que já fora a Nárnia. Janie, a única descendente do legado que trouxera a paz a essa terra, o sangue dos Pevensie, mais uma vez cumprindo algo que já era fadado. Filha de Suzana Pevensie, a única que não fora aceita no País de Aslam, Janie em nada se comparava a mãe, via em seus olhos que parecia muito mais com a tia, na verdade, era a imagem de Lúcia.
            Então todas as entidades que se encontravam em declínio, renasceram, ao lidar com algo que poderia trazer, não só os belos dias de Nárnia de volta, mas também aquele em quem quase ninguém acreditava mais. Mas desta vez o inimigo está mais perto, ao se deparar com os ‘contos’ virando realidade, os humanos, ambiciosos, querem tomar toda a magia para eles, pois até então, eram os que reinavam. É quando Janie, e todas as fadas, inclusive as que estão se recuperando, entram em uma jornada em busca de algo que trará Aslam de volta, algo que pertencera a uma Pevensie, e que por muitas vezes, trouxe a Salvação para Nárnia. Entrando pelos portais mais inesperados, passando por todas as terras, berços das entidades, Janie se depara com um passado, que jamais imaginara existir, e descobre, que sua passagem por aquele lugar, não era apenas uma coincidência, e sim nada mais do que seu Destino.