quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Sucessora - Capítulo 3

Depoimento de:

A morte de minha mãe já completava uma semana. A dor para mim era tão grande, que toda noite, pensava em suas histórias, suas fantasias, suas lições de vida. Seu jeito, seu sorriso. Seus olhos azuis diziam que ela deveria ter sido muito bonita quando jovem.
Era triste pensar que tudo tinha se acabado tão de repente, tão sombrio, em silêncio.
Era três de dezembro, e eu estava na banca de jornal,lendo uma das notícias principais:
“Assasino mata mulher em frente ao banco. 1 semana atrás, Susana Pevensie foi assassinada em frente ao Banco de Fincley.Testemunhas dizem que não viram nada, foi muito rápido, apenas escutaram os tiros e viram a mulher morta no chão. O assassino fugiu e não há pistas sobre ele. A polícia ainda investiga o caso, mas é muito improvável que achem o outor.’’
Eu sou Janie Pevensie, filha de Susana Pevensie com John Stewart, general da Marinha. Tenho catorze anos e sou considerada uma “menina tímida e solitária”. Mas, a pessoa que realmente sabia que isso era mentira era minha mãe. Agora eu teria que viver com meu pai, não era tão ruim, mas ele não me conhecia muito, e vivia em viagens a serviço. E eu teria que ficar com uma ‘’babá’’, de agora em diante.
Agora, minha vida não fazia sentido, e eu estava decidida á agora, ser uma pessoa normal, parar de ser ingênua e parar de acreditar nas historinhas de minha mãe. Eu achava mesmo que aquele Tal Lugar existia. Mas eu tinha que me adaptar, me acostumar com a idéia de: Crescer, estudar, trabalhar e finalmente morrer, para logo acabar com essa vida que nunca me trouxe uma alegria, apenas uma, que tinha acabado de partir.
Voltando a manhã fria e escura, lia friamente a notícia. E sem perceber, uma lágrima caiu sem que eu pedisse. E o estranho que foi apenas uma, como se fosse a última de todas que eu iria derramar. Ela caiu lentamente e suavemente,deixado marcas aonde se encontrou.
O dono da banca de jornal, Sr.Quest, viu aquela cena, logo duvidou.
-Algum problema, Janie? - ele disse, olhando fixamente para minha lágrima. Ele era um adulto de meia idade, tinha cabelos escuros escondidos debaixo de um chapéu. Era alto e tinha um sorriso acolhedor.
-Nada, Sr.Quest. - eu entreguei o dinheiro do jornal. - Obrigada, vou levar este. - eu sai andando e nem esperei ele dizer nada. Não gostava de conversar com adultos, pois eles percebiam minha tristeza.
Indo para casa, vi uma menina que deveria ter uns cinco anos, com lindos cabelos loiros e olhos azuis escuros, andando de mãos dadas com a mãe. Ela não parava de sorrir, e sempre fazia perguntas, o tempo todo. Ela se parecia comigo quando eu era pequena. Mas a única coisa que eu mais perguntava para minha mãe, era sobre aquele Tal Lugar. Eu não aprendi nada com a minha ela, a não ser cada local, cada detalhe, cada história daquele Mundo. Eu até saberia não me perder, se algum dia chegasse lá. Isso me incomodava, pois eu nunca ia falar para um garoto, ou para uma amiga, o porquê da Feiticeira Branca ter matado o Sr Tumnus.
Mas logo esqueci isso, e continuei andando à caminho de casa. Olhei para o céu, estava escuro, iria chover, então comecei a correr.
Chegando em casa, vi umas malas na minha pequena sala. E logo pensei em meu pai.
-Pai? Papai? Você está ai? - eu perguntei, chamando-o.
-Sim, querida! - ele apareceu colocando um relógio no pulso esquerdo, todo arrumado. Ele iria viajar. Após prometer que ficaria comigo neste mês e iria me consolar. Eu fiquei com tanta raiva, que achei que iria explodir. Ele, percebendo minha reação, logo disse. - Filha, me desculpe. - ele chegou perto de mim, se abaixando um pouco, pois ele era mais alto que eu. Colocou a mão em meu ombro. - É uma viagem de trabalho. Não se preocupe, eu já chamei a babá. Ela chegará daqui a pouco. Sinto muito filha.
-Não sente nada. Quanto tempo vai ficar fora? Um mês, três meses? Já basta a mamãe ter ido embora agora você também vai. E eu vou ter que passar meu tempo,com uma babá. Quer saber, estou cansada disso. – fui correndo para meu quarto, e escutei ele chamando meu nome, mas o ignorei.
Eu cheguei ao meu quarto, tranquei a porta, deitei na minha cama e comecei a chorar. Não queria passar um tempo sem meu pai, sem minha mãe, sem minha família. Eu teria que conviver com uma babá chata ao meu lado, me mandando limpar a casa e depois dormir cedo. Eu teria que viver com uma desconhecida. Eu nunca ficara um segundo sem minha mãe, ou sem meu pai ao meu lado. Como eu iria sobreviver?
Depois de algumas horas, sai do meu quarto e vi meu pai olhando os livros na prateleira do escritório. Eu fiquei o espionando, escondida. Até que um momento, alguém bateu a porta. Deveria ser a “querida babá”. Quando percebi que ele iria abrir a porta, fui correndo para meu quarto e fechei a porta mais uma vez. Silenciosamente e lentamente. E fiquei escutando ela e papai conversando por uns minutos.
-Hã... Senhora Elizabeth Russo?-meu pai disse.
-Sim, sou eu. - a babá disse. Ela tinha uma voz doce, jovial. Pelo menos ela não era uma velha chata.
-Pode entrar. Eu vou viajar apenas duas semanas. A única coisa que eu lhe peço é que converse com ela, tente fazê-la sorrir um pouco, esquecer a... - a voz de meu pai somiu, como se a garganta dele não consiguisse dizer nada.
-Eu sinto muito. Eu prometo faze-la sorrir um pouco. - ela disse, terminando a frase de meu pai.
-Obrigada. Janie venha conhecer a Sra. Elizabeth. - meu pai disse, me chamando.
Por educação, sai do quarto e fui devagar até a sala. Vi meu pai sentado em sua poltrona e a “querida babá” em pé. Ela era muito bonita.
Ela tinha cabelos grandes, até a cintura. Tinha olhos azuis bem escuros. Um sorriso acolhedor que dava vontade de abraçá-la. Tinha rosto suave e jeito de ser boazinha, tão boazinha que parecia que nem tinha coragem de matar uma formiga.
Sabendo que todos me olhavam, resolvi dizer algo.
-Hã... Olá. - eu disse, olhando para os dois.
-Oiie, Janie. Muito prazer em conhecê-lá.
-Bem, tenho que ir agora, já estou atrasado - disse meu pai, se arrumando e já abrindo a porta. Ele me deu um abraço, e disse um simples adeus.
Quando ele foi embora, olhei para babá. Observando-a.
-Quantos anos você tem? - eu disse.
-26. E você querida? - ela disse, sorrindo. Acho que ela estava animada para puxar assunto.
-Não é da sua conta! - eu vou para meu quarto.
Chegando ao meu quarto, observei a chuva cair, deitada em minha cama, e olhando de vez em quando para a foto de mim e minha mãe no porta-retrato ao lado de minha cama. Mesmo eu sendo pobre, eu era feliz, não sei como, mas de alguma forma eu era.
Lembrando de meu pai, vi que ele observava algo na biblioteca, então resolvi ler um livro para tirar o tédio. Fui lentamente para biblioteca e vi que a babá lia o jornal que eu comprara. Era hora perfeita para eu ler um livro sem ser incomodada.
Fui correndo para o escritório. Eram prateleiras e mais prateleiras de livros. Eu ficava até confusa com tantos livros. Então, comecei a procurar sobre um tal livro que minha mãe escreveu. Era um conto, mas pelo menos podia lembrar-me de seu jeito doce de falar.
Procurei, revirei, arrumei, desarrumei e não achei nada. Eu não sei como que a babá não escutou nada, acho que foi porque a porta estava fechada. Até que peguei uma cadeira e comecei a ver as prateleiras de cima.
Quando subi, achei o livro, mas atrás dele, tinha um livro bem melhor. Era brilhante e pesado. Parecia ter umas 300 páginas. E estava escrito:
“Livro da descoberta e desejos: Deseje algo, leia o feitiço, feche os olhos, conte até cinco.....”
E então sentei na cadeira, e li. Era perfeito. Eu poderia desejar que minha mãe voltasse. Que tudo voltasse ao normal. Era uma perfeita saída. Mesmo sabendo que poderia não funcionar,porque não tentar?
E então abri o livro, e comecei a procurar o feitiço. Mas só haviam páginas e mais páginas vazias. Comecei a ficar com raiva. Então joguei o livro no chão, com rancor.
Mas quando eu olhei, lá estava o feitiço. Chamava atenção, com suas letras e cores chamativas. E então, sentei no chão, peguei o livro e coloquei ele no meu colo. Primeiro, desejei que minha mãe voltasse,e recitei o feitiço:
            “Estrelas do céu e da terra
            Digam a verdade sem pressa
            Nada a impedirá
            De contar
            A estes adolescentes
            A aventura que está a esperar....
            Pois Aquele, neste momento, está a soprar......”
            Então fechei os olhos, começou a ventar muito forte. Eu levantei, e tentei fechar a janela. Mas não fechava de jeito nenhum, estava emperrada. A cada momento ventava mais forte. Então tentei sair do quarto, mas a porta não abria.
            Então, no momento do desespero, aconteceu uma coisa muito pior. O livro de desejos começou a crescer e as prateleiras caíram dentro dele, como se ele tivesse os sugado. O livro continuava crescendo, e depois chegaria até a mim e me sugaria. Como aquilo estava acontecendo? Comecei a gritar para ver se alguém me ajudava, mas ninguém apareceu. Por um momento achei que iria morrer. E então, se eu morresse, eu poderia, quem sabe, ver minha mãe.
            Cheguei perto do livro, e a ventania começou a me puxar lentamente. Meus cabelos estavam no meu rosto e toda hora eu tentava jogar para trás. Mas aí percebi.
            -O que eu estou fazendo? Janie fuja pela janela!!! - eu pensei,mas era tarde demais.
            Quando fui em direção a janela, o livro me puxou mais forte, e eu cai,com um grito estridente. Fechei os olhos e me senti desabando. O que esta acontecendo? Será que eu fiquei maluca?
            E então, pude perceber que cai sentada em uma grama úmida, e doeu um pouco. Então, abri meus olhos lentamente.
            Havia árvores altas, verdes, e alguns pássaros voavam pelo céu, que eu nunca tinha visto algo tão lindo em toda minha vida. Havia um caminho na minha frente e também um lampião. Era alto, e parecia que ficava aceso dia e noite.
            Aquele lugar era tão lindo, tão perfeito e especial. Nunca, em minha vida inteira pude imaginar um lugar como aquele. Mas alguma coisa estava errada. Mesmo o lugar sendo lindo, havia algum vazio, alguma tristeza vivendo nele. Como se ele tivesse sido abandonado. Quem poderia ter esquecido aquele lugar tão fascinante?
            E então, pensei, que lugar era aquele?
            Encostei naquele lampião e observei aqueles pequenos detalhes. E uma pequena lembrança veio a minha mente, como um choque elétrico. E então,eu disse para mim mesma:
            -Será? Não! É logicamente impossível!

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